evolução comunicação Estudo do Fenómeno da Comunicação

Perspectiva Histórica da Evolução da Comunicação/Educação (Jean Cloutier)

Hoje em dia somos invadidos pela comunicação por todos os lados. Ela está presente em todos os campos, desde a área das relações humanas, passando pelo marketing, dos meios políticos, da imprensa, da informática, …, até às próprias ciências cognitivas. Diderot afirmava que a comunicação “fala a língua de várias ciências, artes e ofícios”. Mattelard chega à conclusão de que “cada época histórica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuração que lhes é devida. Esta configuração com os seus diversos níveis (económicos, social, técnico ou mental) e as suas diferentes escalas (local, nacional, regional ou internacional) produz um conceito de comunicação hegemónica”.1

Numa breve referência à história da comunicação humana, Jean Cloutier identifica quatro fases da comunicação, a comunicação interpessoal, comunicação de elite, comunicação de massas e comunicação individual. Cada nova fase condiciona a anterior a um nível de especialização, orientando-a para uma função determinante e intervenção específica, produzindo simultaneamente um efeito cumulativo e hegemónico. Cumulativo, porque se associa à anterior, aumentando a capacidade e diversidade de processar a informação e comunicação; hegemónico, porque troca de certa forma a ecologia comunicacional e educacional de cada época e sociedade.2

Da “comunicação interpessoal” … á “comunicação individual”

A primeira fase “comunicação interpessoal” em que o homem tem no seu corpo o único medium de se expressar através do gesto e da palavra. O homem é ao mesmo tempo homo faber e homo loquens. Para comunicar à distância, ele tem de se deslocar ou incumbir alguém de o fazer por si. Surge assim, a figura do mensageiro que reproduzirá, pelas suas palavras, pelos seus gestos, a mensagem que lhe foi confiada. Nasce a chamada cultural oral em que o principal registo se baseia na memória.  Posteriormente e ainda neste período nasce a actividade iconográfica, cujos registos chegaram aos nossos dias com as pinturas e gravuras do paleolítico (homo pictor). pintando_cavernas Esta nova competência evoluirá para a escrita. Nesta fase, os ensinamentos processam-se de pai para filho, do mais velho para o mais novo, do patriarca para outros elementos do clã. É um ensino acumulativo que, ao contrário dos animais irracionais, evolui e torna-se complexo de acordo com as descobertas de novas técnicas surgidas do manuseamento diário dos materiais.3

A escola instituição só aparece como organização e sistema na segunda fase, “comunicação de elite”. A grande revolução, aqui verificada, dá-se com a utilização da “escrita fonética” que origina a linguagem “scriptovisual”, uma mistura da componente da escrita manuscrita com muita informação visual. Aparece pela primeira vez um medium que é suporte móvel, pois permite vencer a distância no espaço e no tempo – começa por ser a placa de argila, mais tarde surge o manuscrito e a seguir após um longo percurso o papel. Esta nova forma de comunicação brota em civilizações sedentárias, urbanizadas, com uma economia desenvolvida, principalmente, o sector comercial, de estratificação social evoluída, com necessidade de expansão, possuindo técnicas de marear evoluídas. Os seus povos sentem o imperativo de uma forma de comunicar que seja móvel, que vença o espaço e o tempo, que sirva aos seus propósitos economicistas de comercializar produtos e de produzir matérias primas para satisfação das necessidades básicas das populações, que convenha a um suserano centralizador que necessita de uma forte organização para domínio do seu vasto território.

Esta competência de registo – a escrita – é um conhecimento especializado, com regras que não são acessíveis a todos. Isto leva à formação de uma elite (os escribas) que domina os processos e vai subindo na estrutura social, dominando-a e hierarquizando as suas estruturas. Assim, o ensino que se processava de pai para filho, de patriarca para o elemento mais jovem do clã transforma-se em assunto de especialistas. Estes privilégios foram organizados sob a direcção do poder político e a autoridade religiosa que disputaram entre si a primazia e a responsabilidade da educação das elites de forma a perpetuar as mesmas. É uma escola que reflecte a divisão social, de um lado o mestre que tudo sabe, de um outro o aluno que nada sabe e que é uma tábua rasa onde vão sendo despejados os ensinamentos. Apenas no decurso do século XVIII da nossa era, enquadrado no Movimento das Luzes, se intensificaram os esforços com vista à escolarização universal dos saberes básicos, do saber ler, escrever e contar.

Se o homem conseguiu que a sua mensagem ultrapassasse o espaço e o tempo ao transformar em signos gravados a mensagem, com a invenção da imprensa venceu também a unicidade da sua obra. A amplificação permitirá a multiplicação das suas comunicações. Com o nascimento dos mass media, passa a existir, designada por Jean Cloutier, a “comunicação de massa”, que representa a terceira fase da comunicação. Embora a imprensa tenha nascido na China no século II, é Gutemberg no século XV que dá início a esta fase dominado pelos mass media, que se desenvolve com o iluminismo e a revolução francesa, mas atinge o apogeu na segunda metade do século XIX com o período da comercialização em massa dos jornais a um preço reduzido e ao alcance de todos. As invenções do telégrafo eléctrico (1837 por Samuel Morse) e do telefone (1876 por Graham Bell) consubstanciaram a mobilidade e a rapidez da comunicação envolvendo o mundo numa autêntica teia de informação. Seguiu-se o cinema dos irmãos Lumière em 1895, o rádio por Marconi em 1896, a televisão em 1927 pelo russo Zworykin que se consumou nas primeiras emissões regulares em 1936 em Inglaterra e França.

Um novo paradigma social se perfila, para além da vontade de comunicar, é necessário ter acesso aos meios. Os que a eles acedem: jornalistas, editores, escritores, etc. passam a formar parte de um novo poder – o quarto, juntando-se ao deliberativo, executivo e judicial. A hegemonia da escola como principal fonte do saber é posta em causa. Surge a denominada escola paralela caracterizada por aquilo a que alguns autores chamam currículo oculto que é o que os alunos aprendem com as suas vivências. Esta nova realidade pressupõe uma alteração no papel da escola tendo em atenção os media. A educação pelos media, com os media e para os media, são novas dimensões que se juntam ao acto educativo.

A quarta e última fase, segundo Cloutier é a da “comunicação individual” e decorre da possibilidade de ter acesso a mensagens sempre disponíveis e a capacidade de se exprimir sempre que quiser com os self media. “Emerec é o ponto de partida e o ponto de chegada da comunicação. Já não é apenas informado, ele próprio informa e se informa. Já não é o estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida, é o auto-educando da educação permanente”. Esta fase é de uma maneira geral simultânea à fase de “comunicação de massa”. Alguns dos media que fazem parte desta fase são: a fotografia, os suportes e equipamentos de gravação de som e imagem, a reprografia, o computador e a internet. A percepção pelos sentidos é a primeira etapa do conhecimento. Passar desta primeira impressão ao percebido é a tarefa da escola e o papel principal para o professor. A auto-educação é a principal função destes media. É aqui que também o papel do professor se altera, mas se revaloriza, deixa de ser um mero informador para ser um formador. Um novo paradigma educacional surge, o saber é um projecto em construção…

Da família … à auto-educação

As diversas configurações comunicativas descritas, geradas pela evolução tecnológica, têm reflexo nas estruturas educativas. Estas estruturas educativas evoluíram à medida das transformações das configurações comunicativas. Tal como nas configurações comunicativas, o aparecimento de um nova estruturas educativas não excluí as anteriores. Verifica-se assim de igual modo um efeito cumulativo e hegemónico. Cumulativo, porque as estruturas se sobrepõem, aumentando a diversidade das instâncias; hegemónico, porque traça de certa forma a configuração institucional educativa de cada época histórica.2

Família, à fase da comunicação interpessoal fizemos corresponder a estrutura educativa familiar. Numa configuração comunicativa marcada na relação espaço-tempo, a única mediação possível tem origem no próprio homem, a família emerge assim como a estrutura educativa por excelência. Tudo era ocasião de aprendizagem para assegurar a subsistência (o saber fazer: o pai ensinava o filho a caçar, a pescar, a semear …) e para assegurar a herança cultural, o conhecimento dos mitos, das gestas dos antepassados e a sua imitação através de ritos de iniciação que alimentavam a existência e a continuidade da tribo. Esta modalidade não formal de aprendizagem, prevalece até aos dias de hoje, uma vez ser na família onde a criança recebe e tira grande parte dos saberes fundamentais à vida. Assim o aparecimento da estrutura formal educativa – escola – não retirou capacidade de intervenção à família.

Escola, ao episódio da comunicação de elite associamos a escola enquanto estrutura educativa. A escola aparece ligada ao progressivo uso da linguagem escrita e expande-se para facilitar a transmissão dos conteúdos requeridos pela crescente complexidade das sociedades. A escrita cria assim o episódio que Cloutier designa por comunicação de elite, baseada na desigualdade dos comunicadores e na dicotomia entre os que sabem expressar-se por este meio e os que não sabem. Neste contexto a aprendizagem que era anteriormente adquirida de uma forma não formal (em ambiente familiar) transforma-se num assunto de especialistas.

Escola Paralela, a hegemonia da escola como única fonte de transmissão do saber é posta em causa com o aparecimento dos denominados meios de difusão colectiva ou de massa. Com a amplificação da informação através da popularizaçã do livro, do jornal, do cinema, da rádio e sobretudo da televisão, junta-se à família e à escola um novo agente transmissor de conhecimentos e de atitudes, com um novo estilo, designado de “escola paralela”.2 A escola paralela gerou três movimentos distintos sobre a relação com a escola, são eles a substituição, a concorrência e a complementariedade.

O movimento de substituição é defendido por Ivan Illich e consiste fundamentalmente na substutuição da escola pelas novas tecnologias. A concorrência foi o movimento defendido por Louis Porcher, onde se destaca o facto de a escola permanecer estática relativamente aos avanços dos media. O terceiro movimento designado de complementariedade é defendido por La Borderie, o qual afirma que a educação é permanente e a escola e as novas tecnologias não podem viver em concorrência, pois uma complementa a outra.

Auto-Educação, associada a esta estrutura temos o aparecimento do homem comunicans. Com o surgir de toda a tecnologia de registo dos self-media, o homem tem acesso a mensagens sempre disponíveis, bem como a capacidade de se expressar em linguagens diversificadas. É aqui que o papel de professor e aluno mudou, o aluno passa a ter um papel activo na sua educação, tornando-se uma pessoa autónoma e independente, capaz de ir em busca do seu próprio conhecimento, onde o professor tem o papel de orientação de formação para esta busca.

 

Para finalizar este trabalho deixo estes vídeos que nos resumem de uma maneira muito completa toda a história da comunicação. A evolução … surpreendente tudo o que o homem conseguiu.

 

1Freixo, Manuel João Vaz. Teorias e Modelos de Comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 2006

2Texto de Bento Duarte da Silva, Avaliação e tecnologia educativa: Uma reflexão em torno das ecologias da comunicação e da educação, Universidade do Minho

3www.netprof.pt/PDF/parte2.pdf

 

 

 


 

2 Response to

11 de dezembro de 2009 às 11:36

Filomena,
obrigado pelo seu contributo! Espero que tenha gostado do tema!

Ctos.
PPM

3 de março de 2022 às 08:09

Golden Nugget Hotel & Casino - Mapyro
Golden 도레미시디 출장샵 Nugget Hotel & Casino - Las Vegas. 1010 Las Vegas Blvd South Las Vegas, NV 89109. 시흥 출장안마 Directions · 여주 출장마사지 (702) 770-8783. Call Now · More Info. 제주 출장마사지 Hours, Accepts Credit Cards, 목포 출장안마

Enviar um comentário