Contextos ou Níveis de Comunicação

A área dos contextos de comunicação inclui quatro formas distintas de organizar o acto comunicativo, são elas a comunicação interpessoal, comunicação grupal, comunicação organizacional e comunicação de massas. Em seguida vou abordar cada uma delas de um modo muito genérico, visto tratar-se de uma ampla área de estudo. É ainda importante realçar, tal como sublinha Stephen Littlejohn “é incorrecto considerar os quatro contextos como entidades separadas, devendo-se olhar para eles como uma hierarquia de contextos ajustados uns aos outros, em que o nível superior inclui o inferior mas acrescenta algumas características e qualidades adicionais”.

Comunicação Interpessoal

A comunicação interpessoal realiza a transmissão de informação, ideias, sentimentos, desejos ao outro, torna acção o pensamento ao indivíduo mais próximo. Dean Barnlund diz-nos que “o estudo da comunicação interpessoal ocupa-se (…) da investigação de situações sociais relativamente informais em que pessoas em encontros face-a-face sustentam uma interacção concentrada através da permuta recíproca de pistas verbais e não verbais”. Esta definição pressupõe cinco princípios fundamentais a saber, são eles:
1) Devem existir duas ou mais pessoas em proximidade física e que percebam a presença umas das outras;

2) A comunicação interpessoal envolve “interdependência comunicativa”, ou seja, o comportamento comunicativo de uma pessoa é uma consequência directa do de outra.

3) A comunicação interpessoal envolve a troca de mensagens;

4) As mensagens são codificadas de várias formas verbais e não verbais;

5) A comunicação interpessoal é relativamente carente de estrutura; ele é marcada pela informalidade e pela flexibilidade.

O relacionamento constitui um elemento essencial da comunicação interpessoal. As pessoas empenhadas numa interacção face-a-face estabelecem e mantêm uma relação definida por percepções mútuas, favorecendo assim um processo de estabelecimento e manutenção de relações. Para melhor perceber o relacionamento enquanto envolvência da interacção humana que integra a comunicação interpessoal, vamos recorrer aos cinco axiomas da comunicação de Paul Watzlawick:

1) Não se pode não comunicar, ou seja a simples presença de uma pessoa modifica o comportamento do outro. Trazendo isto para a prática do professor, significa afirmar que, ao entrar na sala de aula, o professor exerce uma influência sobre todos os presentes, simplesmente devido à sua presença.

2) Toda a comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação, de tal modo que o segundo classifica o primeiro e é, portanto, uma metacomunicação. Com relação à prática da sala de aula, isto significa que, se um professor não consegue criar uma boa atmosfera, não vale a pena começar a ensinar. Os participantes não estão obrigados a nada. Se o professor não se apresenta, desde o primeiro instante, não só como um teórico e experiente profissional, mas também como uma pessoa (com qualidades e defeitos), encontrará mais dificuldades em transmitir tudo o que pretende. Sempre que o professor fala define sua relação com o grupo. Tem menos valor o que diz, do que como o diz. Se o professor, por exemplo, acha que tem diante de si um grupo de idiotas e que, com sua aula, está desperdiçando o seu potencial, os alunos irão perceber, mesmo que ele tenha o máximo cuidado para que não percebam a sua postura negativa.

3) A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das sequências comunicativas entre os comunicadores. A distorção pode surgir quando se dá uma discrepância na pontuação entre o emissor e o receptor, isto é, quando a informação que circula é a mesma podendo ser interpretada de diferentes formas aumentando o grau de complexidade comunicacional.

4) Os seres humanos comunicam digital e analogicamente. A linguagem digital tem uma sintaxe lógica e sumamente complexa e poderosa mas carente de adequada semântica, ao passo que a linguagem analógica possui a semântica, mas não tem uma sintaxe adequada para a definição não ambígua da natureza das relações. Pensa-se que a maior falha na comunicação entre o professor e o aluno pode ser enquadrada neste axioma. O conteúdo transmitido de forma digital (verbal) pode não ter concordância com o conteúdo analógico (não verbal). Por outras palavras, aquando da formulação do problema, o Professor pode ter pensado (conteúdo analógico) que o aluno perceberia a pergunta apresentada daquela maneira (conteúdo digital);
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5) Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou complementares, segundo se baseiam na igualdade ou na diferença. Em todas as relações, neste caso, pedagógicas, existe sempre um sujeito que se encontra numa posição “one-up” e outro na posição “one-down”. Numa sala de aula, o professor deverá manter a posição “one-up” na medida em que ensina e os alunos aprendem. O que se espera do professor é que no início das aulas, a comunicação só pode ser complementar. Isto é, os participantes chegam a aula para aprender algo. É o professor que sabe mais que os outros e lhes pode transmitir esta sabedoria. Porém, acreditamos que o professor deve buscar transformar pouco a pouco a comunicação de complementar em simétrica. Isso porque, um bom curso precisa de uma conversa alternada entre interlocutores, favorecendo, assim, um clima de intercâmbio. Principalmente no ensino superior, onde os alunos já trazem conhecimento, habilidades e experiência de vida e trabalho importantes.
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Existem vários estímulos interactivos nesta comunicação conhecida como comunicação face-a-face, estímulos verbais, os quais se referem aos aspectos mais linguísticos da mensagem (organização do discurso, vocabulário utilizado, etc.); estímulos físicos, que incluem os gestos, a expressão facial, os olhares, as posições corporais, etc., estes estímulos são tratados pela comunicação cinésica; estímulos vocais, que envolvem os fenómenos paralinguísticos como o volume, o tom, a velocidade de voz, etc.; e por último os estímulos situacionais, os quais abrangem os elementos materiais duma situação como a disposição espacial, as distâncias entre interlocutores, etc., que são tratados pela comunicação proxémica.

É importante sabermos que a comunicação realizada entre duas pessoas difere daquela realizada para pequenos grupos, grandes grupos e em massa. Na comunicação entre duas pessoas há uma interacção com ausência de pressão de terceiros para defender ou apoiar uma ideia, de um dos dois elementos envolvidos na interacção. Através dos argumentos, cada pessoa se posiciona para defender seu enunciado.

 

Comunicação em grupo

A comunicação em pequenos grupos, como a realizada entre amigos num bar, na faculdade ou no trabalho, por exemplo, existirão mais pessoas para defender, apoiar ou reprovar uma ideia de um membro.

Desta forma, as comunicações neste contexto situacional sofrem interferências conscientes ou inconscientemente, uma vez que membros de um grupo se arriscam para defender uma posição, por saber que existe apoio, o que não aconteceria se a comunicação se estabelecesse numa situação onde os interlocutores se encontrassem sozinhos. A comunicação realizada, estabelecida num grupo é significativamente afectada pelo tipo de pessoa que exerce autoridade sobre ela.

As interacções estabelecidas na comunicação em grupo desenvolvem-se através de redes de comunicação, sendo as mais conhecidas, a rede em “Y”, a rede em “cadeia”, a rede “circular”, rede “centralizada” e rede “completa”. Diversos estudos realizados sobre os modelos de comunicação em grupos, permitiram a que vários investigadores chegassem a conclusões acerca deste nível de comunicação, afirmando:

1) Os indivíduos que participam em grupos cuja rede de comunicação não dá a nenhum deles posição central (rede circular) são os mais satisfeitos;

2) Os grupos que funcionam segundo as redes que comportam papéis centrais (ou de índice de centralidade elevada) são os mais eficazes (do ponto de vista da execução das tarefas e do domínio dos erros cometidos).

Os grupos nascem da necessidade da pessoa de ampliar os recursos tendo em vista a realização de objectivos pessoais. Lewin mostrou como o grupo é uma parte importante do espaço vital do indivíduo, habilitando a pessoa a buscar determinadas metas e a evitar as áreas consideradas indesejáveis. O grupo tem assim grande impacto sobre a vida do individuo.

O grupo constitui um sistema social, envolvendo inter-relações dinâmicas, sendo que algumas teorias na área, adoptam uma abordagem sistémica. Um dos factores essenciais na vida do grupo é a coesão, quanto maior for a coesão de um grupo, mais este afecta o indivíduo. O trabalho final do grupo depende de dois factores, o trabalho directo na tarefa e as relações interpessoais. As interacções no seio do grupo desenvolvem-se através de redes de comunicação, as quais por sua vez influenciam a eficácia e funcionamento do grupo. Investigações recentes dizem que a cada actividade concreta deverá corresponder uma determinada estrutura ou rede de comunicação.

 

Comunicação Organizacional

Comunicação Organizacional é o processo de comunicação que ocorre no contexto de uma organização, seja esta pública ou privada. A comunicação torna-se assim central para a estrutura e a função organizacional. A maioria das teorias reconhece como facto básico que a estrutura de uma organização é predominantemente definida por padrões de comunicação.

Podemos aqui falar de dois tipos de comunicação. A comunicação de marketing, a qual se centra no produto, no serviço e na marca, e a comunicação empresarial, que se fixa na própria empresa (centrando-se no desenvolvimento do fluxo comunicacional no seio da organização).

Relativamente à comunicação de marketing, esta proporciona o aumento da eficácia da empresa, influenciando a gestão, a estratégia e as decisões. Por sua vez, o lançamento de um produto é limitado se não for conceptualizado, e a aplicação de uma decisão é impossível se ela não for facilmente compreensível. Uma organização exige uma imagem institucional, esta não existe se não existirem valores, que terão de ser partilhados e explícitos.

A natureza da comunicação nas organizações é altamente influenciada pela sua estrutura organizacional. Os estruturalistas mostraram como modelar a organização de modo a restringir o fluxo de comunicação. Reagindo a isso, os teóricos das relações humanas demonstraram que as restrições estruturais podem ser perniciosas tanto ao desenvolvimento humano como ao funcionamento organizacional. Por sua vez os teóricos do sistema adoptaram a abordagem mais descritiva desse problema, destacando o modo como os fluxos de comunicação são afectados pelas redes existentes.

A autoridade no seio da organização é uma componente que se assume como questão de credibilidade da comunicação. Os estruturalistas defendem que a organização é uma estrutura hierárquica de relações de autoridade. A autoridade pode ser encarada do ponto de vista clássico, a autoridade é legitimada pela burocracia e onde parte da autoridade do individuo é concedida pelo sistema. Segundo Barnard, a verdadeira autoridade é também estabelecida de baixo para cima.

                        

Comunicação de Massas

No que se refere à comunicação em massa, não existe contacto pessoal entre receptor e emissor, por ser veiculada através da media electrónica ou media impressa, sendo influenciada por editores ou produtores, situação que não ocorre nos outros tipos de comunicação. Este é um tipo de comunicação que permite ao autor da mensagem dirigir-se simultaneamente a um grande número de destinatários.

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Os meios de comunicação de massa são veículos, sistemas de comunicação num único sentido (mesmo que disponham de vários feedbacks, como índices de consumo, ou de audiência, cartas dos leitores). Esta característica distingue-os da comunicação pessoal, na qual o comunicador conta com imediato e contínuo feedback da audiência, intencional ou não, e leva alguns teóricos da media a afirmar que aquilo que obtemos mediante os meios de comunicação de massa não é comunicação, pois esta é via de dois sentidos e, por tanto, tais meios deveriam ser denominados veículos de massa. Todos eles têm como principal função informar, educar e entreter de diferentes formas, com conteúdos seleccionados e desenvolvidos consoante o público alvo.

1 Response to Contextos ou Níveis de Comunicação

Anónimo
13 de setembro de 2016 às 07:49

Obrigado pelo texto! Grande serventia...
E achei a quarta imagem chocante (e desnecessária).
Adorei o blog, lerei outros textos!!

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