Modelos de Comunicação

A comunicação, enquanto processo, é indissociável do universo em que ocorre. Qualquer acto comunicativo está ligado ao todo, tudo está ligado com tudo. No entanto, para tornar a realidade compreensível, ou seja, para tornar compreensíveis os actos comunicativos, os teóricos têm desenvolvido vários modelos dos processos comunicacionais. Estes foram criados e têm como objectivo compreender e estudar a realidade comunicacional. São vários os modelos de comunicação existentes, no entanto neste trabalho irão ser abordados quatro desses modelos, são eles os modelos de base linear ou de informação, os modelos de base cibernética ou circulares, modelos de comunicação de massas, e os modelos culturais ou socioculturais.

 

1-Modelos de Base Linear

Os modelos de base linear, são modelos que dissociam as funções do emissor e do receptor e apresentam a comunicação como sendo a transmissão de mensagens entre esses dois pontos e num único sentido1. Neste campo surgiram vários modelos de comunicação, sendo os mais representativos o modelo linear de Lasswell, Shannon, Weaver e Schramm, sendo que neste trabalho os que irão ser estudados são os modelos lineares de Lasswell e o de Shannon e Weaver.

 

1.1) Modelo Linear de Lasswell

Lasswell sustentou que uma forma de descrever um acto de comunicação é responder a cinco questões: Quem?; Diz o Quê?; Através de que meio?; A quem?; Com que efeito?

Este modelo indica-nos que a iniciativa de um acto de comunicação é sempre do emissor e que os efeitos ocorrem unicamente no receptor, quando, na verdade, um acto comunicativo não tem início bem definido e os emissores e receptores se influenciam mutuamente2. De acordo com Lasswell, o estudo da comunicação tende a centrar-se nas interrogações que fazem parte do seu modelo. Pode, assim, sistematizar-se o estudo da comunicação em vários campos:

Quem?

Estudos sobre o emissor e a emissão das mensagens

Diz o quê?

Análise do discurso

Por que canal?

Análise do meio

A quem?

Análise da audiência e estudos sobre o receptor e a recepção de mensagens

Com que efeito?

Análise dos efeitos das mensagens e da comunicação

Este modelo é baseado em três premissas fundamentais, são eles:

· Os processos de comunicação são estritamente assimétricos, com um emissor activo que produz o estímulo e uma massa passiva de destinatários que, ao ser “atingida” pelo estímulo reage.

· O processo comunicativo é intencional e tem por objectivo obter um determinado efeito, observável e susceptível de ser avaliado.

· Nos processos comunicativos, os papéis de comunicador e destinatário surgem isolados, independentes das relações sociais, situacionais e culturais em que estes se realizem1.

Este esquema linear apresentado por Lasswell é caracterizado pela apresentação de um sujeito estimulador (quem?) que gera estímulos provocando um conjunto de respostas no sujeito experimental (receptor); por estímulos comunicativos (o quê?) que originam uma determinada conduta comunicativa; por instrumentos comunicativos, linguagens e suportes, métodos e técnicas que tornam possível a aplicação dos estímulos comunicativos (em que canal?); e por um sujeito experimental (a quem?) que recebe esses estímulos e vai reagir de acordo com eles (efeitos) 2.

1.1.1 - Críticas ao Modelo

O modelo de Lasswell é um modelo claramente funcionalista, pois atomiza e articula em vários segmentos funcionais, objectivados, o fenómeno da comunicação, propondo, consequentemente, vários campos de estudo. Assim, o modelo mereceu várias críticas, sobretudo dos teóricos que não se revêem nas posições funcionalistas. Estes dizem, por exemplo, que o modelo de Lasswell é linear, quando o processo de comunicação é complexo, admitindo várias formas que transvazam dessa aparente linearidade; que é um modelo redutor, já que não dá conta de várias variáveis, como o feedback; que é um modelo compartimentado, pois segmenta em diferentes elementos aquilo que, na realidade, é um todo, o processo de comunicação; que é um modelo que pressupõe que o efeito constitui uma mudança observável ou mesmo mensurável que se regista no receptor, quando isto pode não ocorrer; finalmente, que não dá conta do contexto do processo de comunicação, nomeadamente da história e circunstâncias dos seus elementos. Este modelo teve o inconveniente de ter suscitado várias abordagens importantes e decisivas, mas que não tinham ligação entre si e impediam a construção de uma síntese coerente do modelo, no seu todo, levando a que o fenómeno da comunicação fosse abordado de ângulos diferentes, tais como a produção, o conteúdo, os media, a audiência e o impacto.

No entanto e independentemente das críticas, o modelo de Lasswell é bastante pertinente, constituindo, ainda hoje um bom auxiliar para o estudo da comunicação. Aliás, o modelo de Lasswell foi proposto num tempo em que os estudos da comunicação ainda se estavam a desenvolver, representando um passo em frente para o conhecimento comunicacional2.

1.2) Modelo Linear de Shannon e Weaver

Um outro processo de comunicação foi apresentado, em 1949, pelo matemático Claude Shannon e pelo engenheiro Warren Weaver. Tratava-se de um modelo para o estudo da comunicação electrónica. No entanto, o modelo pode ser aplicado ao estudo de outras formas de comunicação. Para Shannon e Weaver, o processo de comunicação electrónica pode ser descrito graficamente da seguinte maneira:

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Segundo o esquema, a fonte de informação elabora e envia uma mensagem; a mensagem chega a um transmissor, que transforma a mensagem num sinal. O sinal pode estar sujeito a ruído (interferências). Por esta razão, o sinal emitido pode ser diferente do sinal captado pelo receptor. O receptor capta o sinal e fá-lo retornar à forma inicial da mensagem, de maneira a que esta possa ser percepcionada e compreendida pelo receptor.

Num exemplo prático, um jornalista de rádio pode enviar uma mensagem oral aos destinatários por meios analógicos. Essa mensagem será transformada pelo microfone e pelo transmissor de rádio numa onda electromagnética análoga à onda sonora, o sinal. O sinal pode estar sujeito a interferências, ou seja, a ruído. Um receptor de rádio, como os pequenos rádios domésticos a pilhas, capta esse sinal e converte-o, de novo, em ondas sonoras. Ou seja, converte a mensagem na sua forma original (se não existir ruído). A mensagem é captada pelo destinatário2.

De acordo com o seu modelo, os autores identificaram três ordens de problemas no estudo da comunicação:

a) Problemas técnicos, ligados à precisão da transmissão dos sinais;

b) Problemas semânticos, ligados à precisão do significado pretendido para uma mensagem;

c) Problemas de eficácia, ligados à forma como o significado recebido influencia o comportamento do destinatário.

1.2.1 - Críticas ao modelo

O modelo de Shannon e Weaver pode ser criticado pela sua linearidade, incompletude e estatismo (não tiveram em consideração a interacção com o receptor, o papel das redes de comunicação, não reconhece fenómenos como o feedback, negligenciaram a componente semântica das mensagens)1. No entanto, representou um avanço na figuração paradigmática do processo de comunicação. Além disso, não deve ser ignorado que os seus autores procuravam traduzir exclusivamente o processo de comunicação electrónico mediado (como acontece quando se usa o telefone, um telégrafo, etc.)2.

2- Modelos de Base Cibernética

Os modelos cibernéticos são todos aqueles que integram a retroacção ou feedback como elemento regulador da circularidade da informação.

O primeiro autor a utilizar a palavra «cibernética» foi Platão, referindo-se à «arte de pilotagem», bem como, no sentido figurado, à arte de dirigir os homens. Numa concepção moderna, enquanto ciência, foi Norbert Wiener que a considerou como a «teoria da regulação da comunicação», ou seja, a cibernética é a «arte de assegurar a eficácia da acção», onde a retroacção, ganha papel principal. O conceito de retroacção ou feedback pretende referir o «fenómeno de retorno do efeito de divulgação de uma mensagem», ou seja, a resposta de uma audiência a um produto mediático (os estudos de mercado, os inquéritos de opinião…).

Na comunicação entre duas ou mais pessoas é o feedback que permite que a resposta se ajuste à pergunta do outro, não só nos aspectos linguísticos, mas também nos paralinguísticos. Em suma, na teoria da comunicação o feedback é o mecanismo que garante a eficácia da acção.

Em seguida vou apresentar alguns modelos cibernéticos, que apresentam em comum o facto de incluírem no seu processamento da informação o elemento da retroacção.

2.1) Modelos de Comunicação Interpessoal

Os modelos de comunicação interpessoal, traduzem uma comunicação numa situação de interacção face-a-face, consistindo em eventos de comunicação oral e directa.

2.1.1 - Modelo de Comunicação Interpessoal de Schramm

O modelo de comunicação interpessoal de Schramm ( foi o segundo modelo apresentado por Schramm sendo que o primeiro foi um modelo linear) pode ser graficamente traduzido da seguinte maneira:

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Schramm acrescenta aos modelos lineares uma nova dimensão, na medida em que através da retroacção vai haver um intercâmbio e inter-influência que cada um exerce sobre o outro. De acordo com Schramm o acto comunicativo é interminável, afirma que é erróneo evidenciar que o processo de comunicação tem um início e um fim determinado.

Em síntese, o modelo de Schramm propõe que cada emissor pode também funcionar como receptor num mesmo acto comunicativo (devido ao mecanismo de retroacção ou feedback). Cada emissor/receptor tem a habilidade de descodificar e interpretar mensagens recebidas e de codificar mensagens a emitir. Embora o modelo não o traduza, Schramm salientou que quando se emite uma mensagem, na realidade emitem-se várias mensagens. Por exemplo, na comunicação interpessoal ou televisiva, não conta apenas o que se diz, mas também como se diz, a postura, o vestuário, o penteado, etc. Uma notícia num jornal é apresentada de uma determinada maneira, sujeita a princípios de organização e hierarquização que decorrem do design de imprensa2.

2.1.2 - Modelo Circular de Jean Cloutier

Jean Cloutier é o autor mais representativo desta corrente comunicativa, este teórico defende que o esquema de Emerec não é estático, mas sim que está em movimento e varia continuamente segundo os tipos de comunicação estabelecida. Não é linear, «mas concêntrico, visto que o seu ponto de partida é sempre o ponto de chegada» e sobretudo, o feedback não é um elemento acrescentado e supérfluo, mas inerente ao ciclo da informação.

O esquema da Era de Emerec assenta no seguinte: em primeiro lugar, Jean Cloutier afirma que todos os esquemas são orientados a partir de cada Emerec, ou seja, a partir de cada indivíduo que recebe ou emite informação. Informação essa que só consegue ser concretizada se a linguagem e a mensagem estiverem indissociáveis, pois é a linguagem que permite encarnar uma mensagem. Defende também que é fulcral a existência do médium, ou meio, visto que só através deste é possível transportar as mensagens no tempo e no espaço1.

2.2) Modelos da Comunicação de Massas

Este modelo de comunicação foi inserido nos modelos de base cibernética devido ao facto dos meios de comunicação de massa se basearem na retroacção como elemento regulador da sua boa aceitação por parte do seu público.

2.2.1 – Modelo Geral de Comunicação (Gerbner)

Gerbner é o teórico de um modelo apresentado em 1956, este modelo caracteriza-se pelo facto de poder apresentar diferentes formas em função do tipo de situação de comunicação que descreve. Os seus elementos podem ser utilizados como blocos de construção, possibilitando descrever processos de comunicação simples ou complexos, como uma produção (de mensagens) e uma percepção (de mensagens e acontecimentos a comunicar). O modelo permite abordar questões sobre a natureza e a inter-relação entre percepção e produção.

O modelo de Gerbner pode ser utilizado para diversos fins, por exemplo, descrever a comunicação mista entre humanos e máquinas.

É também utilizado para diferenciar áreas de investigação e construção teórica. Tal como Lasswell com a sua fórmula, Gerbner usou o seu modelo para ilustrar e explicar os principais procedimentos de análise de conteúdo.

O carácter flexível deste modelo confere-lhe utilidade em diferentes níveis. Ao nível indivíduo-indivíduo pode, por exemplo, ilustrar problemas comunicacionais e de percepção na psicologia aplicada aos testemunhos em tribunal: até que ponto é adequada a percepção da testemunha M em relação ao acontecimento A, e até que ponto A é bem expresso em DA, e em que grau é que a percepção DA do juiz M corresponde a DA? Ao nível societal, imaginemos que A é uma notícia ou mesmo a realidade, M representa os mass media, DA o conteúdo mediático e M a audiência. Temos assim um modelo que possibilita fazer perguntas como “qual a correspondência entre a realidade e a notícia (A e DA) tal como é dada pelos media? (M) e a que ponto o conteúdo dos media é bem compreendido pela sua audiência (M)? – Modelo aplicado à comunicação de massas3.

2.2.2 – Modelo da Comunicação de Massas de Schramm

No modelo deste teórico (ver figura) as mensagens são inúmeras mas idênticas, o emissor é colectivo, são ao mesmo tempo, o  Modelo de Schrammorganismo e os mediadores que dele fazem parte. As operações de codificação, interpretação e descodificação existem e são obra de vários especialistas que utilizam fontes exteriores (por exemplo num jornal serão os despachos das agências, as informações recolhidas pelos jornalistas) e têm em conta a retroacção ou o feedback induzido (dando o mesmo exemplo do jornal, tal será observado pelas cartas dos leitores ou pelo número de tiragem).

As mensagens emitidas são múltiplas, mas idênticas – é a mensagem original que é ampliada e dirigida para uma multidão de receptores que, cada um por si, a vai descodificar, interpretar e, por sua vez, codificar. Cada receptor faz parte de um grupo e as mensagens difundidas pelos mass media vão prosseguir o seu caminho através desses grupos1.

2.2.3– Modelo do Processo de Comunicação de Massas (Maletzke)

Através deste modelo, Maletzke evidencia a extensão do processo de comunicação de massas com base nas suas implicações sócio-psicológicas.

Maletzke no seu esquema apresenta alguns elementos já abordados anteriormente, Comunicador, Mensagem, Meio e Receptor, adicionando mais dois elementos que surgem entre o meio e o receptor. Um deles é a pressão ou constrangimento causado pelo meio, este teórico defende que o dia-a-dia do receptor é completamente influenciado pelas características, princípios e conteúdos do meio. O outro é a imagem que o receptor tem desse mesmo meio, o qual influencia a sua escolha relativamente aos conteúdos.

2.3) Modelos Culturais ou Socioculturais

Esta corrente encontra-se mais preocupada com a cultura de massas e as suas repercussões na sociedade, do que com os próprios meios de comunicação de massas. É por isso uma concepção mais sociocultural.

São representativos desta corrente o investigador francês Edgar Morin, passando por Pierre Schaeffer e Abraham Moles.

A característica fundamental é o estudo da cultura de massa distinguindo os seus elementos antropológicos mais relevantes e a relação entre o consumidor e o objecto de consumo.

2.3.1 - Modelo Cultural de Edgar Morin

Edgar Morin desenvolve a tese segundo a qual a cultura de massas é o produto de um processo dialéctico entre criação, produção e consumo. O sucesso junto do grande público depende do grau de eficácia da resposta às aspirações e necessidades individuais.

É pois uma espécie de relação de três elementos. À individualização da criação original, ele opõe a estandardização da produção conformista que permite a democratização do consumo cultural universal. O investigador, centrando a análise, por um lado, na cultura de massas, que denomina de indústria cultural e, por outro, no fenómeno do consumo cultural, desenvolve a tese segundo a qual a cultura de massas é o produto de um processo dialéctico entre criação, produção e consumo1.

2.3.2 - Modelo Cultural de Abraham Moles

O modelo deste investigador insere-se numa perspectiva cibernética, ele defende que estamos perante uma sociodinâmica da cultura, na medida em que há uma interacção constante entre a cultura e o meio a que ela pertence, interacção essa realizada pelos criadores que provocam a evolução.

Segundo Abraham Moles a comunicação está envolvida em quatro elementos, o macro-meio representa a sociedade em si, integrado nela está o criador, este é aquele que age, tem como objectivo desenvolver ideias novas, desempenhando assim actividade em todos os ramos em função de um micro-meio, sendo este entendido como um subconjunto da sociedade, através dos mass-media .

1Freixo, Manuel João Vaz. Teorias e Modelos de Comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 2006

2Sousa, Jorge Pedro. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. Porto, 2006

3Blog do Curso de Comunicação Aplicada. Universidade Lusófona

Comunicar tornou-se, em todas os domínios da nossa actividade, um verdadeiro imperativo categórico. Todos os nossos comportamentos são transformados em comunicação, os nossos gestos são descodificados, até os mais íntimos conseguem ser transformados deixando passar uma mensagem.

Nos dias de hoje a comunicação assume uma enorme importância, sendo mesmo considerada a solução de grande parte dos problemas das sociedades actuais.


Utopia da Comunicação

Durante séculos, o homem ocidental pensou a ciência e a técnica – no âmbito daquilo a que Heidegger chamou uma concepção “instrumental e antropológica”, e que se pode resumir em duas proposições fundamentais: a primeira, a de que a técnica é um conjunto de instrumentos ou meios criados pelo homem, resultantes da aplicação da ciência; a segunda, a de que a técnica está ao serviço do homem que a cria, orientando-se por finalidades por ele determinadas. Ora, os acontecimentos traumáticos da 2ª Guerra Mundial – o holocausto, a bomba atómica, a guerra de extermínio – tornaram visível a todos, do cientista ao homem comum, a impossibilidade de manter uma tal concepção da ciência e da técnica.


Este “desmentido”, ao incidir sobre a ciência e a técnica e, no fundo, sobre aquilo a que se costuma chamar a “razão”, parece colocar radicalmente em causa a possibilidade de toda e qualquer utopia futura – na medida em que toda a utopia se pretende, precisamente, como um projecto de organização mais “racional”, simultaneamente mais sábia e mais justa, da sociedade.


É neste contexto histórico-ideológico do pós 2ª Guerra Mundial, e para responder mais uma vez ao dilema entre a impossibilidade da utopia e a sua absoluta necessidade, que começa a surgir, nos Estados Unidos da América, aquilo a que alguns autores têm vindo a chamar a “utopia da comunicação”.


O projecto utópico que se articula em torno da comunicação é ambicioso. Este desenvolve-se em três níveis, são eles uma sociedade ideal, uma outra definição antropológica do homem e uma promoção da comunicação como valor. Esses três níveis concentram-se em torno do tema do homem novo - Homo communicans.


Um homem novo

Segundo Wiener, esse homem novo é um ser sem interior e sem corpo, que vive em uma sociedade sem segredo; um ser totalmente voltado para o social, que só existe através da troca e da informação, em uma sociedade tornada transparente graças às novas "máquinas de comunicação".

A concepção deste “homem novo” articula-se em redor de dois princípios, o de que todo o ser que comunica a um certo nível de complexidade é digno de ver reconhecida a existência enquanto ser social, e que não é o corpo biológico que sustenta essa existência, mas antes a natureza “informacional” do ser considerado.

Esta nova centragem do ser humano, por parte de Norbert Wiener, permite caracterizar o homem, não como sujeito individual, mas antes a partir da sua actividade de permuta social.


É precisamente neste campo que os media emergem como instrumento essencial e decisivo e que permite ao homem reagir, de forma adequada, às circunstâncias que o envolvem e solicitam.


Uma Sociedade de Comunicação

Esta utopia, que tem em Norbert Wiener um dos seus principais promotores, vê no desenvolvimento da comunicação – que entende como troca ou circulação de informação – e dos meios de comunicação - que designa por imprensa – a possibilidade de construir uma sociedade verdadeiramente democrática, alternativa quer ao comunismo quer ao nazi-fascismo. Essa sociedade assentaria em três princípios fundamentais:

i) O consenso, no sentido de tomar todas as decisões da forma mais racional, fria e desapaixonada possível, permitindo que, face a um determinado problema, todos os cidadãos tenham a mesma liberdade e oportunidade de apresentar as suas soluções, defendê-las com os seus argumentos e, mediante uma discussão aberta e igualitária, chegar a uma solução aceite por todos, evitando assim os conflitos sociais auto-destrutivos.

ii) A transparência, como modo de trazer ao conhecimento dos cidadãos todos os assuntos de interesse público, de tornar claras todas as decisões políticas, de eliminar todos os “segredos de estado”.

iii) A auto-regulação, no sentido de que, como qualquer organismo ou máquina inteligente, a sociedade terá os seus próprios mecanismos homeostáticos, susceptíveis de detectar atempadamente os problemas e desequilíbrios que poderão, assim, ser resolvidos de forma mais rápida e eficaz possível – para o que Wiener confia, e muito, nas “máquinas inteligentes” que começam então a desenvolver-se; poderá mesmo colocar-se a hipótese de, num futuro não muito distante, o Estado deixar de ser necessário, passando todo o poder para os cidadãos ou, pelo menos, para órgãos cada vez mais descentralizados e participados.

O problema da “utopia da comunicação” é, no fundo, o de todas as utopias: o de que elas prometem ser sempre mais do que aquilo que, de facto, podem dar.

Sublinhe-se, desde já, que a “utopia da comunicação” não é apenas mais uma das utopias em que a modernidade tem vindo a ser fértil. Enquanto que as restantes utopias se caracterizam por uma dialéctica união-conflito que não pode deixar de excluir ao mesmo tempo que inclui, a utopia da comunicação apresenta-se, hoje, como uma utopia da união de todos com todos, da inclusão total. Ela só não incluiria os que se recusassem a comunicar; o que, afirmam os seus promotores - que nesta matéria subscreveriam plenamente a afirmação dos pensadores da “Nova Comunicação” e da Escola de Palo Alto “não podemos não comunicar” -, se revela completamente impossível, na medida em que a própria recusa da comunicação já é, e é-o de forma muito significativa, uma forma de comunicação.

A ideia de considerar a comunicação como um valor social, nasce, sobretudo com o objectivo de combater a entropia que, para Wiener, era um elemento perverso na compreensão entre os homens. Nesse sentido, a sua argumentação nasce e desenrola-se em torno de um eixo que opõe a informação à entropia, onde o modelo das sociedades “abertas”, que reduzem a desordem entrópica, se opõe ao das sociedades “rígidas”, que a aumentam e, até, numa situação limite, as podem levar a completa desagregação.


Será que vivemos hoje numa sociedade de comunicação?

O homem sempre comunicou através das formas de comunicação que, ao longo da sua existência, constituíram as suas diferentes linguagens nas relações com os outros homens. Nesta perspectiva, as sociedades humanas têm sido sempre sociedades de comunicação. A sociedade de hoje, é uma sociedade que emana informação, onde os mass media e os self media ocupam um lugar de destaque na facilitação do circular dessa mesma informação. Qual é o grande desafio para o homem desta sociedade? É o conseguir gerir toda esta quantidade de informação. Graças às tecnologias de informação e comunicação, toda esta informação encontra-se mais disponível. O problema encontra-se no facto de esta sociedade liberal, utilizar a comunicação para a sua própria sobrevivência política, favorecendo sempre o mecanismo do esquecimento das razões pelas quais se tinha constituído como valor.

Podemos concluir que o projecto utópico de comunicação, no sentido que lhe foi conferido por Norbert Wiener, apresenta-se como um espaço de liberdade e criatividade do ser humano com uma função social positiva, justamente na dimensão que Adalberto Dias de Carvalho projecta para a utopia no seu sentido mais geral, ou seja, a “utopia surgirá, inclusive, em nome da liberdade e da soberania do homem, como um autêntico afrontamento do real. Correria, contudo, o risco de o demolir ao não respeitar de todo as regras e as categorias do conhecimento positivo, o único que lhe permitiria a apreensão correcta dos condicionamentos que influenciam, explicam e, em última instância, projectam o próprio homem”. 1


Informação retirada de:

Manuel João Vaz Freixo, Teorias e Modelos de Comunicação, Lisboa: Instituto Piaget, 2006

Paulo Serra, Comunicação e Utopia, Universidade da Beira Interior

1Adalberto Dias de Carvalho, Utopia e Educação, Porto: Porto Editora, 1994.

Bom Ano 2010!

Desejo a todos os meus colegas, professores, amigos e visitantes do blog um óptimo 2010!

                        

Contextos ou Níveis de Comunicação

A área dos contextos de comunicação inclui quatro formas distintas de organizar o acto comunicativo, são elas a comunicação interpessoal, comunicação grupal, comunicação organizacional e comunicação de massas. Em seguida vou abordar cada uma delas de um modo muito genérico, visto tratar-se de uma ampla área de estudo. É ainda importante realçar, tal como sublinha Stephen Littlejohn “é incorrecto considerar os quatro contextos como entidades separadas, devendo-se olhar para eles como uma hierarquia de contextos ajustados uns aos outros, em que o nível superior inclui o inferior mas acrescenta algumas características e qualidades adicionais”.

Comunicação Interpessoal

A comunicação interpessoal realiza a transmissão de informação, ideias, sentimentos, desejos ao outro, torna acção o pensamento ao indivíduo mais próximo. Dean Barnlund diz-nos que “o estudo da comunicação interpessoal ocupa-se (…) da investigação de situações sociais relativamente informais em que pessoas em encontros face-a-face sustentam uma interacção concentrada através da permuta recíproca de pistas verbais e não verbais”. Esta definição pressupõe cinco princípios fundamentais a saber, são eles:
1) Devem existir duas ou mais pessoas em proximidade física e que percebam a presença umas das outras;

2) A comunicação interpessoal envolve “interdependência comunicativa”, ou seja, o comportamento comunicativo de uma pessoa é uma consequência directa do de outra.

3) A comunicação interpessoal envolve a troca de mensagens;

4) As mensagens são codificadas de várias formas verbais e não verbais;

5) A comunicação interpessoal é relativamente carente de estrutura; ele é marcada pela informalidade e pela flexibilidade.

O relacionamento constitui um elemento essencial da comunicação interpessoal. As pessoas empenhadas numa interacção face-a-face estabelecem e mantêm uma relação definida por percepções mútuas, favorecendo assim um processo de estabelecimento e manutenção de relações. Para melhor perceber o relacionamento enquanto envolvência da interacção humana que integra a comunicação interpessoal, vamos recorrer aos cinco axiomas da comunicação de Paul Watzlawick:

1) Não se pode não comunicar, ou seja a simples presença de uma pessoa modifica o comportamento do outro. Trazendo isto para a prática do professor, significa afirmar que, ao entrar na sala de aula, o professor exerce uma influência sobre todos os presentes, simplesmente devido à sua presença.

2) Toda a comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação, de tal modo que o segundo classifica o primeiro e é, portanto, uma metacomunicação. Com relação à prática da sala de aula, isto significa que, se um professor não consegue criar uma boa atmosfera, não vale a pena começar a ensinar. Os participantes não estão obrigados a nada. Se o professor não se apresenta, desde o primeiro instante, não só como um teórico e experiente profissional, mas também como uma pessoa (com qualidades e defeitos), encontrará mais dificuldades em transmitir tudo o que pretende. Sempre que o professor fala define sua relação com o grupo. Tem menos valor o que diz, do que como o diz. Se o professor, por exemplo, acha que tem diante de si um grupo de idiotas e que, com sua aula, está desperdiçando o seu potencial, os alunos irão perceber, mesmo que ele tenha o máximo cuidado para que não percebam a sua postura negativa.

3) A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das sequências comunicativas entre os comunicadores. A distorção pode surgir quando se dá uma discrepância na pontuação entre o emissor e o receptor, isto é, quando a informação que circula é a mesma podendo ser interpretada de diferentes formas aumentando o grau de complexidade comunicacional.

4) Os seres humanos comunicam digital e analogicamente. A linguagem digital tem uma sintaxe lógica e sumamente complexa e poderosa mas carente de adequada semântica, ao passo que a linguagem analógica possui a semântica, mas não tem uma sintaxe adequada para a definição não ambígua da natureza das relações. Pensa-se que a maior falha na comunicação entre o professor e o aluno pode ser enquadrada neste axioma. O conteúdo transmitido de forma digital (verbal) pode não ter concordância com o conteúdo analógico (não verbal). Por outras palavras, aquando da formulação do problema, o Professor pode ter pensado (conteúdo analógico) que o aluno perceberia a pergunta apresentada daquela maneira (conteúdo digital);
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5) Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou complementares, segundo se baseiam na igualdade ou na diferença. Em todas as relações, neste caso, pedagógicas, existe sempre um sujeito que se encontra numa posição “one-up” e outro na posição “one-down”. Numa sala de aula, o professor deverá manter a posição “one-up” na medida em que ensina e os alunos aprendem. O que se espera do professor é que no início das aulas, a comunicação só pode ser complementar. Isto é, os participantes chegam a aula para aprender algo. É o professor que sabe mais que os outros e lhes pode transmitir esta sabedoria. Porém, acreditamos que o professor deve buscar transformar pouco a pouco a comunicação de complementar em simétrica. Isso porque, um bom curso precisa de uma conversa alternada entre interlocutores, favorecendo, assim, um clima de intercâmbio. Principalmente no ensino superior, onde os alunos já trazem conhecimento, habilidades e experiência de vida e trabalho importantes.
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Existem vários estímulos interactivos nesta comunicação conhecida como comunicação face-a-face, estímulos verbais, os quais se referem aos aspectos mais linguísticos da mensagem (organização do discurso, vocabulário utilizado, etc.); estímulos físicos, que incluem os gestos, a expressão facial, os olhares, as posições corporais, etc., estes estímulos são tratados pela comunicação cinésica; estímulos vocais, que envolvem os fenómenos paralinguísticos como o volume, o tom, a velocidade de voz, etc.; e por último os estímulos situacionais, os quais abrangem os elementos materiais duma situação como a disposição espacial, as distâncias entre interlocutores, etc., que são tratados pela comunicação proxémica.

É importante sabermos que a comunicação realizada entre duas pessoas difere daquela realizada para pequenos grupos, grandes grupos e em massa. Na comunicação entre duas pessoas há uma interacção com ausência de pressão de terceiros para defender ou apoiar uma ideia, de um dos dois elementos envolvidos na interacção. Através dos argumentos, cada pessoa se posiciona para defender seu enunciado.

 

Comunicação em grupo

A comunicação em pequenos grupos, como a realizada entre amigos num bar, na faculdade ou no trabalho, por exemplo, existirão mais pessoas para defender, apoiar ou reprovar uma ideia de um membro.

Desta forma, as comunicações neste contexto situacional sofrem interferências conscientes ou inconscientemente, uma vez que membros de um grupo se arriscam para defender uma posição, por saber que existe apoio, o que não aconteceria se a comunicação se estabelecesse numa situação onde os interlocutores se encontrassem sozinhos. A comunicação realizada, estabelecida num grupo é significativamente afectada pelo tipo de pessoa que exerce autoridade sobre ela.

As interacções estabelecidas na comunicação em grupo desenvolvem-se através de redes de comunicação, sendo as mais conhecidas, a rede em “Y”, a rede em “cadeia”, a rede “circular”, rede “centralizada” e rede “completa”. Diversos estudos realizados sobre os modelos de comunicação em grupos, permitiram a que vários investigadores chegassem a conclusões acerca deste nível de comunicação, afirmando:

1) Os indivíduos que participam em grupos cuja rede de comunicação não dá a nenhum deles posição central (rede circular) são os mais satisfeitos;

2) Os grupos que funcionam segundo as redes que comportam papéis centrais (ou de índice de centralidade elevada) são os mais eficazes (do ponto de vista da execução das tarefas e do domínio dos erros cometidos).

Os grupos nascem da necessidade da pessoa de ampliar os recursos tendo em vista a realização de objectivos pessoais. Lewin mostrou como o grupo é uma parte importante do espaço vital do indivíduo, habilitando a pessoa a buscar determinadas metas e a evitar as áreas consideradas indesejáveis. O grupo tem assim grande impacto sobre a vida do individuo.

O grupo constitui um sistema social, envolvendo inter-relações dinâmicas, sendo que algumas teorias na área, adoptam uma abordagem sistémica. Um dos factores essenciais na vida do grupo é a coesão, quanto maior for a coesão de um grupo, mais este afecta o indivíduo. O trabalho final do grupo depende de dois factores, o trabalho directo na tarefa e as relações interpessoais. As interacções no seio do grupo desenvolvem-se através de redes de comunicação, as quais por sua vez influenciam a eficácia e funcionamento do grupo. Investigações recentes dizem que a cada actividade concreta deverá corresponder uma determinada estrutura ou rede de comunicação.

 

Comunicação Organizacional

Comunicação Organizacional é o processo de comunicação que ocorre no contexto de uma organização, seja esta pública ou privada. A comunicação torna-se assim central para a estrutura e a função organizacional. A maioria das teorias reconhece como facto básico que a estrutura de uma organização é predominantemente definida por padrões de comunicação.

Podemos aqui falar de dois tipos de comunicação. A comunicação de marketing, a qual se centra no produto, no serviço e na marca, e a comunicação empresarial, que se fixa na própria empresa (centrando-se no desenvolvimento do fluxo comunicacional no seio da organização).

Relativamente à comunicação de marketing, esta proporciona o aumento da eficácia da empresa, influenciando a gestão, a estratégia e as decisões. Por sua vez, o lançamento de um produto é limitado se não for conceptualizado, e a aplicação de uma decisão é impossível se ela não for facilmente compreensível. Uma organização exige uma imagem institucional, esta não existe se não existirem valores, que terão de ser partilhados e explícitos.

A natureza da comunicação nas organizações é altamente influenciada pela sua estrutura organizacional. Os estruturalistas mostraram como modelar a organização de modo a restringir o fluxo de comunicação. Reagindo a isso, os teóricos das relações humanas demonstraram que as restrições estruturais podem ser perniciosas tanto ao desenvolvimento humano como ao funcionamento organizacional. Por sua vez os teóricos do sistema adoptaram a abordagem mais descritiva desse problema, destacando o modo como os fluxos de comunicação são afectados pelas redes existentes.

A autoridade no seio da organização é uma componente que se assume como questão de credibilidade da comunicação. Os estruturalistas defendem que a organização é uma estrutura hierárquica de relações de autoridade. A autoridade pode ser encarada do ponto de vista clássico, a autoridade é legitimada pela burocracia e onde parte da autoridade do individuo é concedida pelo sistema. Segundo Barnard, a verdadeira autoridade é também estabelecida de baixo para cima.

                        

Comunicação de Massas

No que se refere à comunicação em massa, não existe contacto pessoal entre receptor e emissor, por ser veiculada através da media electrónica ou media impressa, sendo influenciada por editores ou produtores, situação que não ocorre nos outros tipos de comunicação. Este é um tipo de comunicação que permite ao autor da mensagem dirigir-se simultaneamente a um grande número de destinatários.

massa

Os meios de comunicação de massa são veículos, sistemas de comunicação num único sentido (mesmo que disponham de vários feedbacks, como índices de consumo, ou de audiência, cartas dos leitores). Esta característica distingue-os da comunicação pessoal, na qual o comunicador conta com imediato e contínuo feedback da audiência, intencional ou não, e leva alguns teóricos da media a afirmar que aquilo que obtemos mediante os meios de comunicação de massa não é comunicação, pois esta é via de dois sentidos e, por tanto, tais meios deveriam ser denominados veículos de massa. Todos eles têm como principal função informar, educar e entreter de diferentes formas, com conteúdos seleccionados e desenvolvidos consoante o público alvo.

                         

evolução comunicação Estudo do Fenómeno da Comunicação

Perspectiva Histórica da Evolução da Comunicação/Educação (Jean Cloutier)

Hoje em dia somos invadidos pela comunicação por todos os lados. Ela está presente em todos os campos, desde a área das relações humanas, passando pelo marketing, dos meios políticos, da imprensa, da informática, …, até às próprias ciências cognitivas. Diderot afirmava que a comunicação “fala a língua de várias ciências, artes e ofícios”. Mattelard chega à conclusão de que “cada época histórica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuração que lhes é devida. Esta configuração com os seus diversos níveis (económicos, social, técnico ou mental) e as suas diferentes escalas (local, nacional, regional ou internacional) produz um conceito de comunicação hegemónica”.1

Numa breve referência à história da comunicação humana, Jean Cloutier identifica quatro fases da comunicação, a comunicação interpessoal, comunicação de elite, comunicação de massas e comunicação individual. Cada nova fase condiciona a anterior a um nível de especialização, orientando-a para uma função determinante e intervenção específica, produzindo simultaneamente um efeito cumulativo e hegemónico. Cumulativo, porque se associa à anterior, aumentando a capacidade e diversidade de processar a informação e comunicação; hegemónico, porque troca de certa forma a ecologia comunicacional e educacional de cada época e sociedade.2

Da “comunicação interpessoal” … á “comunicação individual”

A primeira fase “comunicação interpessoal” em que o homem tem no seu corpo o único medium de se expressar através do gesto e da palavra. O homem é ao mesmo tempo homo faber e homo loquens. Para comunicar à distância, ele tem de se deslocar ou incumbir alguém de o fazer por si. Surge assim, a figura do mensageiro que reproduzirá, pelas suas palavras, pelos seus gestos, a mensagem que lhe foi confiada. Nasce a chamada cultural oral em que o principal registo se baseia na memória.  Posteriormente e ainda neste período nasce a actividade iconográfica, cujos registos chegaram aos nossos dias com as pinturas e gravuras do paleolítico (homo pictor). pintando_cavernas Esta nova competência evoluirá para a escrita. Nesta fase, os ensinamentos processam-se de pai para filho, do mais velho para o mais novo, do patriarca para outros elementos do clã. É um ensino acumulativo que, ao contrário dos animais irracionais, evolui e torna-se complexo de acordo com as descobertas de novas técnicas surgidas do manuseamento diário dos materiais.3

A escola instituição só aparece como organização e sistema na segunda fase, “comunicação de elite”. A grande revolução, aqui verificada, dá-se com a utilização da “escrita fonética” que origina a linguagem “scriptovisual”, uma mistura da componente da escrita manuscrita com muita informação visual. Aparece pela primeira vez um medium que é suporte móvel, pois permite vencer a distância no espaço e no tempo – começa por ser a placa de argila, mais tarde surge o manuscrito e a seguir após um longo percurso o papel. Esta nova forma de comunicação brota em civilizações sedentárias, urbanizadas, com uma economia desenvolvida, principalmente, o sector comercial, de estratificação social evoluída, com necessidade de expansão, possuindo técnicas de marear evoluídas. Os seus povos sentem o imperativo de uma forma de comunicar que seja móvel, que vença o espaço e o tempo, que sirva aos seus propósitos economicistas de comercializar produtos e de produzir matérias primas para satisfação das necessidades básicas das populações, que convenha a um suserano centralizador que necessita de uma forte organização para domínio do seu vasto território.

Esta competência de registo – a escrita – é um conhecimento especializado, com regras que não são acessíveis a todos. Isto leva à formação de uma elite (os escribas) que domina os processos e vai subindo na estrutura social, dominando-a e hierarquizando as suas estruturas. Assim, o ensino que se processava de pai para filho, de patriarca para o elemento mais jovem do clã transforma-se em assunto de especialistas. Estes privilégios foram organizados sob a direcção do poder político e a autoridade religiosa que disputaram entre si a primazia e a responsabilidade da educação das elites de forma a perpetuar as mesmas. É uma escola que reflecte a divisão social, de um lado o mestre que tudo sabe, de um outro o aluno que nada sabe e que é uma tábua rasa onde vão sendo despejados os ensinamentos. Apenas no decurso do século XVIII da nossa era, enquadrado no Movimento das Luzes, se intensificaram os esforços com vista à escolarização universal dos saberes básicos, do saber ler, escrever e contar.

Se o homem conseguiu que a sua mensagem ultrapassasse o espaço e o tempo ao transformar em signos gravados a mensagem, com a invenção da imprensa venceu também a unicidade da sua obra. A amplificação permitirá a multiplicação das suas comunicações. Com o nascimento dos mass media, passa a existir, designada por Jean Cloutier, a “comunicação de massa”, que representa a terceira fase da comunicação. Embora a imprensa tenha nascido na China no século II, é Gutemberg no século XV que dá início a esta fase dominado pelos mass media, que se desenvolve com o iluminismo e a revolução francesa, mas atinge o apogeu na segunda metade do século XIX com o período da comercialização em massa dos jornais a um preço reduzido e ao alcance de todos. As invenções do telégrafo eléctrico (1837 por Samuel Morse) e do telefone (1876 por Graham Bell) consubstanciaram a mobilidade e a rapidez da comunicação envolvendo o mundo numa autêntica teia de informação. Seguiu-se o cinema dos irmãos Lumière em 1895, o rádio por Marconi em 1896, a televisão em 1927 pelo russo Zworykin que se consumou nas primeiras emissões regulares em 1936 em Inglaterra e França.

Um novo paradigma social se perfila, para além da vontade de comunicar, é necessário ter acesso aos meios. Os que a eles acedem: jornalistas, editores, escritores, etc. passam a formar parte de um novo poder – o quarto, juntando-se ao deliberativo, executivo e judicial. A hegemonia da escola como principal fonte do saber é posta em causa. Surge a denominada escola paralela caracterizada por aquilo a que alguns autores chamam currículo oculto que é o que os alunos aprendem com as suas vivências. Esta nova realidade pressupõe uma alteração no papel da escola tendo em atenção os media. A educação pelos media, com os media e para os media, são novas dimensões que se juntam ao acto educativo.

A quarta e última fase, segundo Cloutier é a da “comunicação individual” e decorre da possibilidade de ter acesso a mensagens sempre disponíveis e a capacidade de se exprimir sempre que quiser com os self media. “Emerec é o ponto de partida e o ponto de chegada da comunicação. Já não é apenas informado, ele próprio informa e se informa. Já não é o estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida, é o auto-educando da educação permanente”. Esta fase é de uma maneira geral simultânea à fase de “comunicação de massa”. Alguns dos media que fazem parte desta fase são: a fotografia, os suportes e equipamentos de gravação de som e imagem, a reprografia, o computador e a internet. A percepção pelos sentidos é a primeira etapa do conhecimento. Passar desta primeira impressão ao percebido é a tarefa da escola e o papel principal para o professor. A auto-educação é a principal função destes media. É aqui que também o papel do professor se altera, mas se revaloriza, deixa de ser um mero informador para ser um formador. Um novo paradigma educacional surge, o saber é um projecto em construção…

Da família … à auto-educação

As diversas configurações comunicativas descritas, geradas pela evolução tecnológica, têm reflexo nas estruturas educativas. Estas estruturas educativas evoluíram à medida das transformações das configurações comunicativas. Tal como nas configurações comunicativas, o aparecimento de um nova estruturas educativas não excluí as anteriores. Verifica-se assim de igual modo um efeito cumulativo e hegemónico. Cumulativo, porque as estruturas se sobrepõem, aumentando a diversidade das instâncias; hegemónico, porque traça de certa forma a configuração institucional educativa de cada época histórica.2

Família, à fase da comunicação interpessoal fizemos corresponder a estrutura educativa familiar. Numa configuração comunicativa marcada na relação espaço-tempo, a única mediação possível tem origem no próprio homem, a família emerge assim como a estrutura educativa por excelência. Tudo era ocasião de aprendizagem para assegurar a subsistência (o saber fazer: o pai ensinava o filho a caçar, a pescar, a semear …) e para assegurar a herança cultural, o conhecimento dos mitos, das gestas dos antepassados e a sua imitação através de ritos de iniciação que alimentavam a existência e a continuidade da tribo. Esta modalidade não formal de aprendizagem, prevalece até aos dias de hoje, uma vez ser na família onde a criança recebe e tira grande parte dos saberes fundamentais à vida. Assim o aparecimento da estrutura formal educativa – escola – não retirou capacidade de intervenção à família.

Escola, ao episódio da comunicação de elite associamos a escola enquanto estrutura educativa. A escola aparece ligada ao progressivo uso da linguagem escrita e expande-se para facilitar a transmissão dos conteúdos requeridos pela crescente complexidade das sociedades. A escrita cria assim o episódio que Cloutier designa por comunicação de elite, baseada na desigualdade dos comunicadores e na dicotomia entre os que sabem expressar-se por este meio e os que não sabem. Neste contexto a aprendizagem que era anteriormente adquirida de uma forma não formal (em ambiente familiar) transforma-se num assunto de especialistas.

Escola Paralela, a hegemonia da escola como única fonte de transmissão do saber é posta em causa com o aparecimento dos denominados meios de difusão colectiva ou de massa. Com a amplificação da informação através da popularizaçã do livro, do jornal, do cinema, da rádio e sobretudo da televisão, junta-se à família e à escola um novo agente transmissor de conhecimentos e de atitudes, com um novo estilo, designado de “escola paralela”.2 A escola paralela gerou três movimentos distintos sobre a relação com a escola, são eles a substituição, a concorrência e a complementariedade.

O movimento de substituição é defendido por Ivan Illich e consiste fundamentalmente na substutuição da escola pelas novas tecnologias. A concorrência foi o movimento defendido por Louis Porcher, onde se destaca o facto de a escola permanecer estática relativamente aos avanços dos media. O terceiro movimento designado de complementariedade é defendido por La Borderie, o qual afirma que a educação é permanente e a escola e as novas tecnologias não podem viver em concorrência, pois uma complementa a outra.

Auto-Educação, associada a esta estrutura temos o aparecimento do homem comunicans. Com o surgir de toda a tecnologia de registo dos self-media, o homem tem acesso a mensagens sempre disponíveis, bem como a capacidade de se expressar em linguagens diversificadas. É aqui que o papel de professor e aluno mudou, o aluno passa a ter um papel activo na sua educação, tornando-se uma pessoa autónoma e independente, capaz de ir em busca do seu próprio conhecimento, onde o professor tem o papel de orientação de formação para esta busca.

 

Para finalizar este trabalho deixo estes vídeos que nos resumem de uma maneira muito completa toda a história da comunicação. A evolução … surpreendente tudo o que o homem conseguiu.

 

1Freixo, Manuel João Vaz. Teorias e Modelos de Comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 2006

2Texto de Bento Duarte da Silva, Avaliação e tecnologia educativa: Uma reflexão em torno das ecologias da comunicação e da educação, Universidade do Minho

3www.netprof.pt/PDF/parte2.pdf

 

 

 


 



Estarão todos estes conceitos (comunicação, informação, entropia, redundância e ruído) relacionados com a prática profissional de comunicação entre os professores e alunos?


No dia-a-dia um professor é confrontado com todos estes conceitos, mesmo sem dar por isso. É necessário ter atenção a todos eles para que a nossa comunicação seja o mais possível clara e perceptível para os nossos alunos. Nós professores (emissor) muita das vezes temos uma mensagem que queremos passar, mas a qual por diversos factores (ruídos) não chega aos alunos (receptor), pelo menos da maneira como deveria e gostariamos que chegasse. É através do feedback (testes, respostas dos alunos, expressões faciais, etc) que conseguimos detectar se houve ou não falha no processo comunicativo. Na sala de aula a maior parte das vezes este ruído é o próprio barulho que os alunos fazem. E o que é que nós fazemos? Entre outras coisas, recorremos à redundância, ou seja repetimos tudo o que anteriormente haviamos dito.


Educar é transmitir/comunicar informação/conhecimento ao outro. Para que tal aconteça, além de recorrermos à redundância (repetir, dizer por outras palavras), utilizamos gestos e expressões corporais para reforçar toda a comunicação verbal.


Para abordar um tema, requeremos muitas vezes à entropia, geramos o caos, a dúvida nos alunos, através de um debate no qual o professor lança um tema e os alunos expõem e discutem as suas ideias. Esta é uma maneira onde a comunicação costuma ser bastante positiva uma vez que os alunos estão atentos e sentem-se activos em todo o processo.


Saber gerir, utilizar, compreender todos estes conceitos torna-se então imprescindível para o sucesso de um professor.

Epistemologia da Comunicação

Epistemologia é um conjunto de conhecimentos teórico-metodológicos ligados simbioticamente que permitem elaborar uma forma de investigar um objecto. A Epistemologia da Comunicação nasce assim com o objectivo de melhor compreender o que é a comunicação. Assim, neste trabalho irei abordar conceitos que são indispensáveis saber para melhor conhecer este processo.

Mas afinal o que é a Comunicação?

Comunicar entende-se como “comungar”, participar em algo juntamente com outro, formar comunidade, num processo pelo qual cada indivíduo dá ao outro algo que continua a ser seu também1. Podemos ainda dizer que o significado de comunicação também pode ser expresso na simples decomposição do termo “comum+acção”, querendo significar “acção em comum”, desde que se leve em consideração que o “algo em comum” se refere a um mesmo objecto de consciência e não a coisas materiais, ou à propriedade de coisas materiais. A acção realizada não é sobre a matéria, mas sobre outrem, justamente aquela cuja intenção é realizar acção de duas ou mais consciências com objectivos comuns2.

A comunicação é o processo de transmitir a informação e compreensão de uma pessoa para a outra. Se não houver esta compreensão, não ocorre a comunicação. Assim, se uma pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendida pela outra pessoa, a comunicação não se efectivou.

Luiz Martino, escreve “o termo comunicação não se aplica nem às propriedades ou ao modo de ser das coisas, nem exprime uma acção que reúne os membros de uma comunidade. Ele não designa nem o ser, nem a acção sobre a matéria, tão pouco a praxis social, mas um tipo de relação intencional exercida sobre outrem”3.

Para Colin Cherry, comunicação significa "compartilhar elementos de comportamento ou modos de vida, pela existência de um conjunto de regras"4.

Berlo, entende comunicação "como sendo o processo através do qual um indivíduo suscita uma resposta num outro indivíduo, ou seja, dirige um estímulo que visa favorecer uma alteração no receptor de forma a suscitar uma resposta"4.

Abraham Moles, define comunicação "como o processo de fazer participar um indivíduo, um grupo de indivíduos ou um organismo, situados numa dada época e lugar, nas experiências de outro, utilizando elementos comuns"4.

As teorias da comunicação podem ser generalizadas em três grandes áreas, são elas: as orientações gerais que pressupõem a comunicação como um processo complexo de interacção simbólica; os processos básicos que assumem que a interacção simbólica se apresenta como um sistema de emissão e recepção de mensagens codificadas, constituídas por sinais ou grupos de sinais formados através dos processos de pensamento humano e que tem significado para as pessoas, resultando assim um processo de mudança. Finalmente, a área dos contextos de comunicação que inclui quatro formas de comunicação distintas de organizar o acto comunicativo. São elas a Comunicação interpessoal; Comunicação grupal; comunicação organizacional e Comunicação de massas2.

O Processo de Comunicação

Para que se efective a comunicação linguística, é indispensável a existência de vários elementos: um emissor e um receptor entre os quais se estabelece um contacto, se passa uma mensagem. Neste processo, o emissor transmite uma mensagem ao receptor, usando um sistema de sinais linguísticos comum a ambos. O emissor e receptor estão inseridos num contexto que desempenha um papel de grau variável na codificação e descodificação da mensagem1.

No processo de comunicação, o emissor é a pessoa que pretende comunicar uma mensagem, pode ser chamada de fonte ou de origem. Aqui é importante destacar o significado, que corresponde à ideia, ao conceito que o emissor deseja comunicar. Assim como o codificador, o qual é constituído pelo mecanismo vocal para decifrar a mensagem.

A mensagem é a ideia que o emissor deseja comunicar. Na mensagem temos um canal, também chamado de veículo e é o espaço situado entre o emissor e o receptor. O ruído na mensagem é a perturbação dentro do processo de comunicação.

O receptor é quem recebe a mensagem, a quem esta é destinada. A etapa da comunicação feita pelo receptor pode ser dividida em descodificador, compreensão e regulamentação. O descodificador é estabelecido pelo mecanismo auditivo para decifrar a mensagem, para que o receptor a compreenda. A compreensão é o entendimento da mensagem pelo receptor. A regulamentação ocorre quando o receptor confirmar a mensagem recebida do emissor, representa a volta da mensagem enviada pelo emissor (Feedback). 

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Retirado de: esdpedroial.ccems.pt/edvisual/comunicacao.htm

De acordo com Gil, em comunicação, uma pessoa (emissor) tem uma ideia que pretende comunicar. Para tal utiliza o seu mecanismo vocal (codificador), que expressa sua mensagem em palavras. Essa mensagem, veiculada pelo ar (canal) é interpretada pela pessoa a quem se comunica (receptor), após sua decifração por seu mecanismo auditivo (descodificador). O receptor, após constatar que entendeu a mensagem (compreensão), esclarece a fonte acerca de seu entendimento (regulamentação)5.

Tipos de Comunicação

A comunicação é um processo psicológico pelo qual se realiza a transmissão interpessoal de ideias, sentimentos e atitudes que possibilitam e garantem a dinâmica grupal e a dinâmica social. A comunicação poderá, por isso mesmo, ser verbal ou não-verbal.

A comunicação verbal realiza-se por intermédio da linguagem, que, graças à sua estrutura simbólica, permite aos elementos de um grupo a comparticipação nas experiências actuais ou tradicionais desse grupo. Esta pode ser feita oralmente, através de pedidos, conversas, debates, discussões; ou por escrito, pelas cartas, telegramas, bilhetes, livros, jornais, entre outras.

A comunicação não-verbal, realizada através de processos empáticos, e eventualmente traduzível através de movimentos expressivos, estabelece nos grupos, ou nas relações interpessoais diádicas, um clima afectivo que condiciona a própria comunicação verbal, imprimindo à linguagem um segundo nível de significação1. A comunicação não-verbal é feita através da troca de sinais, o olhar, o gesto, postura, mímica. A comunicação por mímica é feita por gestos das mãos, do corpo, da face, as caretas; na comunicação pelo olhar, as pessoas costumam se entender pelo olhar. A comunicação feita pela postura é aquela em que o modo como nos sentamos, a posição do corpo, embora inconscientemente transmite uma mensagem. A comunicação por gestos, pode ser voluntária, como um beijo ou um cumprimento, mas também pode ser involuntária, como por exemplo, mãos que não param de mexer, o que nos indica tensão e, ou nervosismo.

 

Informação

Informação vem do latim informatio, onis (delinear, conceber ideia), dar forma ou moldar na mente. Assim, a informação é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que recebe.

Informação enquanto conceito, carrega uma diversidade de significados, do uso quotidiano ao técnico. Genericamente, o conceito de informação está intimamente ligado às noções de restrição, comunicação, controle, dados, forma, instrução, conhecimento, significado, estímulo, padrão, percepção e representação de conhecimento.

O conceito, a noção que temos de informação é vago assim como intuitivo. Quando fazemos uma pergunta, estamos pedindo informação, quando vemos televisão ou um filme, estamos absorvendo informação. Ao ler um jornal, uma revista, ao ouvir música, sabemos que estamos lidando com algum tipo de informação. Até quando contamos uma piada estamos transmitindo informação. Usamos, absorvemos, assimilamos, manipulamos, transformamos, produzimos e transmitimos informação durante todo o tempo.

Informação é a qualidade da mensagem que um emissor envia para um ou mais receptores. Informação é sempre sobre alguma coisa (ocorrência de um evento etc.). Vista desta maneira, a informação não tem de ser precisa, ela pode ser verdadeira ou mentirosa, ou apenas um som (como o de um beijo). Mesmo um ruído inoportuno feito para inibir o fluxo de comunicação e criar equívoco, seria, sob esse ângulo, uma forma de informação. Todavia, em termos gerais, quanto maior a quantidade de informação na mensagem recebida, mais precisa ela é.

Comunicação vs Informação

A comunicação difere da informação na medida em que, a comunicação pressupõe, para além da mensagem a transmitir, a existência de duas ou mais consciências em presença e referidas consciente ou inconscientemente, compassiva ou agressivamente, uma mesma intencionalidade afectiva1. Informar é transmitir, mas transmitir não é comunicar. A comunicação é a relação, a inter-relação, ao passo que a informação é a mera difusão de dados.

No entanto, a comunicação encontra-se relacionada com a informação. A comunicação é dependente da informação, pois a comunicação consiste na transmissão de uma informação, se nenhuma informação for transmitida, então não existe comunicação.

 

Entropia

A origem da palavra entropia, são os radicais gregos em (dentro) e tropee (mudança, troca, alternativa). O termo foi muito trabalhado na física para designar a segunda lei da termodinâmica. São várias as maneiras de enunciar esta lei, sendo uma das mais completas: “Todo o sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima.” Dito de outra forma, todo o sistema isolado tende para a maior homogeneidade possível pelo abrandamento e depois pela paragem de trocas no seu meio2.

De um modo geral, a entropia de um sistema é a medida da sua “desordem”. Assim, quanto mais organizado for um sistema, menor a sua entropia, e vice-versa.

Na comunicação, a entropia está relacionada com o grau de desorganização da mensagem, assim, quanto mais desorganizada for a mensagem, mais entrópica é. No entanto, a entropia pode ter uma utilização positiva na comunicação, pois uma mensagem extremamente ordenada é também uma mensagem previsível e, portanto, redundante. A característica de imprevisibilidade da entropia pode dar à comunicação um toque mais original.

Cada vez mais é utilizada a entropia na comunicação, exemplo disso são os programas televisivos, as próprias emissoras estão a deixar de lado a sua estrutura convencional e previsível e a obtar por uma mais ousada e criativa.

 

Redundância

Redundância é o excesso, repetição excessiva ou pleonasmo. Redundância pode ser entendida como a probabilidade de ocorrência de uma informação, ou seja, quanto mais provável a informação, mais redundante ela é. Por exemplo: Paris localiza-se na França, é uma frase 100% redundante. Uma frase sem redundâncias é: Lisboa é a capital de França6.

A redundância é o oposto da entropia. Resulta de uma previsibilidade elevada. Assim uma mensagem de baixa previsibilidade é entrópica e com muita informação, inversamente, uma mensagem de elevada previsibilidade é redundante e com pouca informação. A redundância desempenha um papel vital na comunicação para organizar e manter a compreensibilidade da mensagem.

A redundância, acrescenta ainda Lussato, permite ao ser humano, cuja capacidade de compreensão de uma mensagem é limitada, “compreender” melhor, ou seja, perceber melhor a “forma” da mensagem2.

Do ponto de vista da Teoria da Informação a redundância é a repetição de informações, cuja função é a de proteger as mensagens de qualquer sistema de comunicação contra possíveis falhas. A redundância está presente tanto na interacção quotidiana de duas pessoas, como na transmissão de dados de telecomunicações. Seu conceito está presente nos mais variados sistemas que necessitam de protecção contra falhas seja um hospital, um satélite ou um automóvel6.

A redundância também se encontra associada à economia da informação, isto é, quanto menos redundante mais económica será a mensagem. Ou seja, quanto menos dados forem transmitidos entre máquinas (computadores, satélites) mais banda de transmissão pode ser usada e mais informação pode circular. No entanto, para a comunicação (interpessoal ou difusão) a economia não importa, pois o importante é o entendimento das mensagens6.

Tipos de Redundância

Em conclusão podemos dizer que a redundância constitui um excesso de informação na mensagem, e que apresenta como principal função o superar dos problemas práticos da comunicação. Estes problemas podem estar associados à exactidão e à detecção de erros, ao canal e ao ruído, à natureza da mensagem ou à audiência. A redundância aumenta a forma do comunicado, mas facilita a sua percepção e compreensão.

Segundo o esquema de Shannon é possível distinguir quatro tipos de redundância, são eles:

a) A redundância do código resultante dos mecanismos da própria língua.

b) A redundância do emissor, ou a acção do sujeito falante sobre a substância do código utilizado.

c) A redundância do canal quer dizer, o uso paralelo de vários canais informativos (por exemplo o visual e o auditivo).

d) A redundância do interlocutor ou os conhecimentos subjectivos do participante do acto de comunicação. Os casos mais frequentes são a orientação no tema, atitude positiva, ou interesse particular, etc2.

 

Ruído

A primeira noção de ruído foi-nos deixada por Shannon e Weaver na sua teoria matemática da informação. Para eles, o ruído é responsável pelas interferências que prejudicam a transmissão perfeita da mensagem2.

De acordo com Carvalho, o ruído é identificado na comunicação humana como o conjunto de barreiras, obstáculos, acréscimos, erros e distorções que prejudicam a compreensão da mensagem. Isto significa que nem sempre aquilo que o emissor deseja informar é precisamente aquilo que o receptor decifra e compreende7. Segundo Gil, ruído é qualquer fonte de erro, distúrbio ou deformação da fidelidade na comunicação de uma mensagem, seja ela sonora, visual, escrita etc. E é este o desafio das comunicações nas empresas e na nossa vida diária5.

De um modo geral a palavra ruído significa barulho, som ou poluição sonora não desejada. O ruído é algo que é acrescentado ao sinal, entre a sua transmissão e a sua recepção e que não é pretendido pela fonte. O ruído apresenta diferentes padrões consoante a área em que está associado. Na electrónica o ruído pode ser associado à percepção acústica, por exemplo de um "chiado" característico ou aos "chuviscos" na recepção fraca de um sinal de televisão. De forma parecida a má definição de uma fotografia, quando evidente, também tem o sentido de ruído. Na Teoria da informação o ruído é considerado como portador de informação8.

O ruído pode ser classificado em ruído natural e artificial, ruído exógeno e endógeno e ruído repertório. O ruído natural refere-se a ruídos de causas naturais tais como ruídos atmosféricos, ruídos inerentes a dispositivos passivos e activos da electrónica, ao passo que o ruído artificial se refere a ruídos de causas artificiais, como por exemplo, ruídos de interferência. O ruído exógeno encontra-se relacionado com interferências externas ao processo de comunicação, como por exemplo outra mensagem. O ruído endógeno refere-se às interferências internas do processo de comunicação, como perda de mensagem durante seu transporte ou má utilização do código. Ruído de repertório tem a ver com interferências ocorridas directamente na produção ou interpretação da mensagem, provocadas pelo repertório dos emissores e receptores8.

Se o emissor dá conta de que há ruído (se ele próprio ouve o avião passar), pode repetir o que disse, por outras palavras, produzir novamente o sinal. Mas há casos em que o ruído se produz a um nível tal que o emissor pode ignorar tudo e estar persuadido de que o seu sinal chega sem problemas ao destino. Repetição pelas mesmas palavras ou por palavras parecidas, recurso a meios diversos para exprimir a mesma coisa constituem recursos à redundância como meio de luta contra o ruído2.

 

Bibliografia

1Fonseca, F. Irene. “Comunicação”, Enciclopédia Verbo, 7º volume. Lisboa: Edição Século XXI, 1998

2Freixo, Manuel João Vaz. Teorias e Modelos de Comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 2006

3Martino, Luiz C.. Teorias da Comunicação: Conceitos e Tendências. Vozes, 2001

4Cloutier, Jean. A era de EMEREC; Ministério da Educação e Investigação Cientifica, 1975

5Gil, António Carlos. Administração de recursos humanos: um enfoque profissional. São Paulo: Atlas, 1994

6 http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/R/redundancia.htm

7Carvalho, A. V.; Serafim, O.C. G. Administração de recursos humanos. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 1995.

8 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ru%C3%ADdo